ARMAZENE - Associação Brasileira de Armazenamento de Energia

Leilão de transmissão prevê investimentos de R$ 18,2 bi com expectativa de disputa e descontos

Alta demanda por equipamentos e escassez de mão de obra de engenharia e construção preocupam empresas

Por Robson Rodrigues - De São Paulo

O primeiro leilão de transmissão de energia de 2024 previsto para ocorrer nesta quinta-feira (28) na sede da B3, em São Paulo, deve atrair investimentos da ordem de R$ 18,2 bilhões e contratar quase 6.500 quilômetros dos chamados linhões. A previsão é que o evento seja marcado por ampla concorrência de grandes grupos e expectativa de deságios.




Eletrobras, Alupar e Engie estão na lista de empresas que confirmaram que estarão na disputa. O mercado espera também por CPFL, Neoenergia, Cymi e Energisa, além de gestoras, fundos de infraestrutura e bancos, como a Vinci, XP, Pátria, Perfin, BTG Pactual, entre outras. O setor de transmissão atrai os investidores por ser regulado e o vencedor ganhar um contrato de 30 anos indexado ao IPCA sem risco de inadimplência.

Já algumas companhias tradicionais no segmento de transmissão declararam que não participarão do certame. A Taesa desistiu pelo nível de endividamento. A Copel disse que vai focar em disciplina financeira e descarta participação em leilão. Já a colombiana Isa Cteep tem R$ 15 bilhões a executar nos próximos anos e mais um lote pode deixar a empresa muito alavancada.

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a infraestrutura vai atender 14 Estados com o objetido de expansão da rede básica a fim de fazer frente à expectativa de contratação de elevados montantes de energia provenientes de empreendimentos de geração renovável, com destaque para as usinas eólicas e solares, além da ampliação da capacidade de transmissão para atendimento regional.

A expectativa do setor é que todos os lotes sejam arrematados, mas os participantes precisarão estar atentos à alta demanda por equipamentos, escassez de mão de obra de engenharia e construção e licenciamento ambiental.

"Será interessante verificar se os interessados podem se sentir um pouco mais confortáveis em eventualmente diminuir o deságio ofertado. Temos visto que, em relação à Receita Anual Permitida (RAP) teto definida pela Aneel, os deságios têm oscilado, na média, entre 40% e 50% aproximadamente", diz Alberto Büll, sócio da área de Energia do Veirano Advogados.

Ao Valor, o ministro Alexandre Silveira destaca que os investimentos visam garantir a segurança energética do país e destravar o potencial de geração renovável. "Os 15 lotes vão aumentar a rede de transmissão do Brasil, além de garantir a geração de quase 35 mil novos empregos diretos", diz.

Do lado das fabricantes, o mercado verá o retorno de WEG, Siemens Energy e Hitachi Energy disputando quase um terço do capex estimado. No leilão que ocorreu em dezembro de 2023, a escolha de uma tecnologia mais antiga fez com que as empresas não disputassem o certame, que ficou concentrado nas mãos dos chineses.

O vice-presidente sênior para América Latina da Siemens Energy, André Clark, diz que as fábricas estão cheias, mas as empresas têm condições de atender às demandas do mercado e as movimentações de pré-contratos já estão em curso entre as empresas participantes.

Os deságios têm oscilado, na média, entre 40% e 50% aproximadamente"
- Alberto Büll
Do ponto de vista de qualificação, a Aneel promete ser mais rígida para evitar "aventureiros". Em junho de 2023, o Consórcio Gênesis ganhou a licitação de dois lotes com investimentos bilionários. Depois de não apresentar garantias, a empresa foi desqualificada. A agência implantou regras de qualificação técnica e econômico-financeira mais restritivas para que casos como este não se repitam.

Neste cenário com uma grande quantidade de lotes espalhados geograficamente, o consultor na área de transmissão, Rogério Pereira de Camargo, frisa que tal condição oferece a possibilidade de integração com ativos já em operação comercial, dando vantagem competitiva para companhias de grande porte.

"Já os lotes com menor valor de investimento, abrem oportunidades para os investidores que são novos entrantes ou com menor capacidade de investimento", afirmou Camargo.

Quanto à sensibilidade ambiental, o sinal amarelo acende pelo fato de a greve de servidores de campo do Ibama continua, o que gera certa falta de previsibilidade. Dos 15 lotes oferecidos, sete precisam de licenciamento ambiental do órgão federal. Os outros são licenciados pelos Estados.

A Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), estatal responsável por fazer o planejamento do setor e dar as diretrizes ao Ministério de Minas e Energia (MME) sobre os projetos a serem licitados, aponta que os empreendimentos vão também aumentar a margem de escoamento da geração renovável para os centros consumidores, melhorar o atendimento regional nos Estados e trazer mais confiabilidade no fornecimento de energia.

O presidente da EPE, Thiago Prado, frisa que o primeiro leilão de transmissão de 2024 inclui linhas que se integram à solução planejada e contratada no certame ocorrido em dezembro de 2023. A estratégia da Aneel é condicionar a continuidade de alguns lotes ao sucesso de outros.

Valor
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/03/27/leilao-de-transmissao-preve-investimentos-de-r-182-bi-com-expectativa-de-disputa-e-descontos.ghtml