ARMAZENE - Associação Brasileira de Armazenamento de Energia

Sumitomo constrói um grande projeto de sistemas de baterias ao custo de US$ 1,3 bi, no Japão

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Rede prevê fornecer energia a diversas regiões do país, reciclar baterias e vender eletricidade diretamente às fábricas de semicondutores que serão montadas no país

A trading japonesa Sumitomo, que integra um conglomerado centenário formado por empresas do ramo imobiliário, financeiro e de construção, gastará 200 bilhões de ienes (US$ 1,3 bilhão) para instalar um poderoso sistema de baterias em todo o Japão. O plano é montar uma estrutura para armazenar o excesso de energia gerada por parques eólicos ou solares, revelou nesta quarta-feira, dia 24, o jornal Nikkei Asia, em matéria reproduzida no Brasil pelo Valor.

A Sumitomo fez uma instalação de armazenamento de 6 megawatts-hora em terra ao longo da linha ferroviária de Kyushu, na província de Kumamoto. O plano abrange mais instalações na região de Kyushu para aumentar a capacidade total de armazenamento até 40 MWh. A rede fornecerá energia à região, além de vender eletricidade diretamente às fábricas de semicondutores com uso intensivo de energia que estão sendo construídas na área.



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A Sumitomo também planeja desenvolver redes de armazenamento de energia semelhantes em outros lugares, como em Hokkaido e na região de Tohoku, no nordeste do Japão. A capacidade geral em todo o país chegará a 2 gigawatts-hora até março de 2031. O projeto representará um dos maiores investimentos do país já realizados no setor de armazenamento de energia por bateria.

A Sumitomo administrará a rede a partir da sede do grupo em Tóquio. O armazenamento e as vendas de energia serão realizadas quase automaticamente por meio de um sistema de inteligência artificial desenvolvido pela própria companhia.

A perfeita simbiose entre o armazenamento e o uso de energia solar e eólica

O armazenamento de energia chega em boa hora, no entender dos responsáveis pela iniciativa, já que a produção de energia solar e eólica varia muito dependendo do clima, da hora e da estação. Devido a essas variações, as instalações de energia renovável tendem a ficar com lacunas de eletricidade ou então produzir energia excedente.

No Japão, assim como em outras partes do mundo, a energia renovável que excede a capacidade da rede elétrica é normalmente descartada através de controles de produção. Com as estações de bateria instaladas, o excedente de energia renovável pode ser armazenado durante esses períodos para ser usado posteriormente.

Devido à capacidade limitada da rede de transmissão de energia, os controles de produção foram acionados cerca de 290 vezes em 2023, em momentos de picos de energia ou intermitências - o triplo do número do ano anterior. Em Kyushu, 9% das energias renováveis foram descartadas.

Se as metas de infraestrutura de energia renovável forem cumpridas em 2030, cidades como Tohoku e Hokkaido serão forçadas a descartar mais de metade da energia gerada, a menos que sejam tomadas medidas adicionais nas quais o armazenamento pode ser fundamental, alertou o Ministério da Economia, Comércio e Indústria.

O mercado japonês de baterias de armazenamento de rede elétrica crescerá para 8,35 GWh por ano em 2030, cerca de quatro vezes a escala de 2023, de acordo com uma projeção da agência Bloomberg NEF. É que o governo federal criou um programa de subsídios para que os operadores utilizem baterias de armazenamento.

A iniciativa governamental servirá para suprir as necessidades de energia enquanto o mercado aguarda a construção de uma nova rede de transmissão na qual o Japão planeja investir entre 6 e 7 trilhões de ienes. A nova rede poderá levar mais de uma década para ser concluída.

Para o novo sistema de armazenamento de energia, a Sumitomo tem como meta reciclar baterias utilizadas nos veículos elétricos produzidos pela também japonesa Nissan Leaf. A distância percorrida por carga nestes automóveis diminui com a idade da bateria. Por razões de segurança e desempenho, as baterias normalmente são trocadas após cerca de oito anos.

Uma bateria de automóvel usada ainda retém cerca de 70% da capacidade de armazenamento, que pode ser reciclada e ganhar sobrevida de mais alguns anos. A reciclagem não só contribuirá para uma economia sustentável em termos de recursos, mas a Sumitomo também terá acesso a baterias baratas assim que os veículos elétricos se tornarem populares.

A realidade do armazenamento de energia em cada país

O governo japonês vai encerrar ou desmantelar centrais térmicas mais antigas até ao ano fiscal de 2030, como parte de um esforço de descarbonização. A construção de novas centrais de combustíveis fósseis continua a ser um desafio, como evidenciado pela decisão da Kansai Electric Power de cancelar os planos de construção de uma central a gás na cidade de Wakayama, no ano passado.

Nos Estados Unidos, o governo está concedendo incentivos fiscais para investimentos em unidades de armazenamento de baterias para energia renovável. Na Europa, existem planos para instalar enormes plantas de armazenamento de baterias com capacidade superior a 100 mil quilowatts-hora.

No Chile, o governo fez recentemente um grande chamamento para que empresas de todo o mundo se habilitem a explorar as enormes reservas de lítio que o país tem. No Brasil, o segmento de energia aguarda com expectativa a regulação do setor, e também que o Ministério de Minas e Energia habilite os sistemas de armazenamento de energia em seus leilões de reserva de capacidade, o que não aconteceu até o momento.