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Brookfield vê baterias como próxima fronteira do setor elétrico brasileiro

Parque de geração de energia solar da Elera Renováveis, subsidiária da Brookfield: baterias poderiam beneficiar energia solar - Foto: Divulgação/Brookfield

A empresa canadense está de olho no primeiro leilão de baterias, que promete impulsionar o mercado de armazenamento de energia; alternativa pode ajudar a reduzir os cortes de energia chamados de 'curtailment'


Por Luciana Collet (Broadcast)

O mercado de sistemas de armazenamento de eletricidade pode ser a próxima grande aposta da gestora canadense Brookfield no mercado brasileiro. O grupo, que tem mais de 125 anos de presença no País e história atrelada ao próprio desenvolvimento do setor elétrico nacional, se prepara para apoiar o Brasil em seu próximo salto tecnológico, com a inserção de baterias no Sistema Interligado Nacional (SIN). A empresa está acompanhando de perto os trabalhos para a realização do primeiro leilão de baterias, atualmente previsto para abril de 2026, com objetivo de participar da disputa.

"Acho que isso criará uma oportunidade muito empolgante", disse ao Estadão/Broadcast a executiva de operações (COO), do negócio de Energia Renovável & Transição da Brookfield, Natalie Adomait. "Baterias são uma enorme oportunidade para um mercado como o Brasil", completou, citando a abundância de potencial eólico e solar, além da matriz elétrica brasileira, já muito limpa, bem como a perspectiva de que as baterias forneçam mais confiabilidade ao sistema brasileiro.

A executiva canadense é responsável por supervisionar a gestão de ativos e de fundos para o portfólio global da Brookfield, que tem 45 gigawatts (GW) de capacidade operacional e 200 GW de projetos renováveis em todo o mundo. De acordo com ela, o interesse em baterias tem crescido em todo o mundo, apoiado pela redução dos custos da tecnologia, que baratearam 95% desde 2016.

"Com cada um dos desenvolvedores de renováveis no nosso portfólio, estamos impulsionando o desenvolvimento de estratégias de baterias e construindo equipes que tenham expertise para implantar essa tecnologia, porque a maioria dos mercados já começou a se mover rapidamente em direção a disso", disse ela. Segundo a executiva, essa será a tecnologia de crescimento mais rápido do portfólio global nos próximos anos. "Com sorte, o Brasil desempenhará um papel realmente importante nisso nos próximos 12 a 24 meses."

De acordo com ela, a Brookfield vem mapeando mercados que ofereçam condições mais favoráveis para investimentos na tecnologia e na geração de energia renovável, já que isso deverá permitir um crescimento mais acelerado do novo mercado. Uma preocupação, sinalizou a executiva, é que o empreendedor seja compensado pelos benefícios que as baterias podem proporcionar ao sistema, seja do ponto de vista de otimização do custo da geração, seja pela estabilidade ofertada à rede.

Neste sentido, o líder do negócio de Energia Renovável & Transição da Brookfield no Brasil, André Flores, avaliou que a realização do leilão brasileiro de baterias é importante porque garante uma fonte de receita inicial para esses sistemas enquanto o mercado evolui até se tornar mais comercial, o que permitiria também operações mais atreladas à arbitragem de preços entre valores horários da energia mínimos e máximos. Ou seja, entre o horário pico da geração solar, no meio do dia, quando há excesso de energia, e o pico da demanda, no início da noite, quando é necessário acionar usinas mais caras.

"Devemos garantir que o mercado esteja dando os incentivos certos para justificar a instalação de baterias atrás do medidor em nossos ativos", disse.

Natalie vislumbra potencial para o desenvolvimento de projetos associados de geração renovável eólica ou solar com baterias, atrelados a contratos de longo prazo (PPA, na sigla em inglês), num modelo já experimentado pela Brookfield na Austrália, em acordo com a BHP. "A Austrália é um dos mercados que está muito à frente na integração de tecnologias em soluções híbridas, mas acho que essa é uma direção que poderíamos ver se as baterias decolarem no Brasil", disse.

Os recursos para uma iniciativa nesse sentido poderiam vir do fundo de transição catalítica focado em mercados emergentes, o Catalytic Transition Fund (CTF), atualmente em fase de captação e que já tem US$ 2,4 bilhões anunciados, com meta para chegar a US$ 5 bilhões. O foco para a aplicação do capital desse fundo é em energia limpa e ativos de transição e, segundo Natalie, o Brasil será uma região central. Índia, outros países da América Latina e do Sudeste Asiático também fazem parte da estratégia.

Cortes

Além das regras sobre baterias, a Brookfield também aguarda o avanço das normas sobre o ressarcimento pelos cortes de geração renovável (curtailment), que Natalie considera fundamentais para que o setor de geração volte a ser atraente a novos investimentos.

"Ao redor do mundo, todos estão lidando com isso de maneiras diferentes, e diria que há muitas lições a serem aprendidas", disse, citando exemplos na Coreia do Sul e Índia, onde há foco de investimentos em gestão e expansão da rede de transmissão. "Caso contrário, isso continuará a ser considerado no custo e limitará o investimento potencial no futuro se não for gerenciado da maneira certa", acrescentou.

Flores comentou que os níveis de curtailment atualmente vistos no Brasil são significativamente superiores aos observados em outros mercados onde a Brookfield atua. Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontam que os cortes chegaram próximos a 30% da geração potencial em outubro, alcançando a máxima histórica. "E o impacto no setor é muito maior, porque a compensação atualmente é muito limitada", diz.

Já o atual momento de sobreoferta de energia é visto em perspectiva pela executiva da Brookfield, tendo em vista o potencial crescimento da demanda a partir de datacenters e outras grandes cargas. "Somos investidores de longo prazo, não olhamos para ciclos políticos, janelas de investimento de dois anos, ou o que está acontecendo hoje no mercado", diz.

Ela cita, ainda, oportunidades com a tendência de eletrificação das indústrias, além de um movimento de "desglobalização", com a criação de cadeias de suprimentos mais próximas geograficamente.

"A beleza de um país como o Brasil é que o potencial de recursos é imenso, de uma perspectiva eólica e solar, e quando você combina isso com tecnologias como baterias, sendo capaz, então, de fornecer energia modelada, há muitas oportunidades", acrescentou.

Estadão
https://www.estadao.com.br/economia/negocios/brookfield-avalia-entrada-no-mercado-brasileiro-de-baterias-para-armazenamento-de-energia/