ARMAZENE - Associação Brasileira de Armazenamento de Energia

Leilão de baterias cria oportunidade de atrair novos investimentos ao país

Turbinas de energia eólica na Bahia - Foto: Humberto Siciliano/Divulgação/06/02/2024 -

Iniciativa abre caminho para armazenar energia eólica e solar hoje desperdiçada


A geração de energia no Brasil é conhecida pela base renovável, assentada nas usinas hidrelétricas. Nos últimos anos, porém, ela passou por grande transformação com o crescimento da geração de energia solar e eólica. Com isso, surgiram questões regulatórias e técnicas inéditas. Como sol e vento são fontes intermitentes, tornou-se mais frequente haver excesso de energia em determinados horários do dia. Isso leva o Operador Nacional do Sistema (ONS) a cortar ou limitar a conexão à rede de distribuição, jogando fora energia que poderia ser armazenada (situação conhecida como curtailment). Esse problema pode começar a ser resolvido a partir de abril do ano que vem, quando o país planeja realizar o primeiro leilão para instalação de parques de baterias capazes de estocar energia excedente.

De acordo com o Relatório Síntese do Balanço Energético Nacional, no ano passado a geração solar aumentou 39,6% ante 2023, e a capacidade instalada cresceu 28,1%, para 48.468 MW. Na eólica, o salto foi de 12,4% e, na potência instalada, de 3%, para 29.550 MW. Somadas, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as duas fontes já respondem por 24% da geração total de energia. A diversificação é necessária para garantir o fornecimento contínuo e evitar apagões, sobretudo num cenário de mudanças climáticas com secas extremas, afetando níveis de reservatórios das hidrelétricas (responsáveis por 56% da geração). A iniciativa de fazer o primeiro leilão de baterias transmite um sinal positivo para atrair mais investimentos nas novas fontes.

Pela legislação que regula o setor elétrico, o custo de armazenamento da energia não será repassado ao consumidor, mas rateado entre geradores, excluindo as modalidades que não dependem das baterias, as termelétricas e hidrelétricas. Mesmo com o custo, a oportunidade que se abre para as geradoras solar e eólica é imensa. Basta lembrar que os gigantescos data centers usados pelos sistemas de inteligência artificial dependerão de imensa capacidade de geração ambientalmente sustentável, algo que o Brasil pode oferecer se dispuser de um parque robusto de baterias.

Alguns críticos afirmam que uma licitação de térmicas e hidrelétricas prevista para antes do leilão das baterias pode prejudicá-lo por ampliar a capacidade de atendimento da demanda, reduzindo a necessidade do sistema de armazenamento. Mas as baterias podem garantir um novo patamar de competitividade à geração solar e eólica. Já existem grandes parques de baterias instalados nos Estados Unidos e na Europa, conectados às redes de transmissão. O Brasil não pode ficar para trás.

O Globo
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