ARMAZENE - Associação Brasileira de Armazenamento de Energia

Empresas estudam participação no leilão de reserva de capacidade de 2025 e comentam condições propostas

Cemig

Fornecedores e investidores comentaram com a pv magazine sobre as condições iniciais sugeridas para a realização do leilão que contratará sistemas de armazenamento de baterias, incluindo uma capacidade mínima de 30 MW por 4 horas. Eles destacam que condições contratuais e remuneração por serviços ancilares serão essenciais para definir a participação dos projetos no leilão.

LÍVIA NEVES E ALESSANDRA NERIS

Em abril de 2024, quando esquentaram as conversas sobre a eventual participação de baterias no leilão de reserva de capacidade que o governo federal pretende realizar até o final do ano, fontes ouvidas pela pv magazine relataram ter recebido consultas para até 2 GWh de projetos de armazenamento em estudo no país. Agora, com o anúncio de um leilão dedicado exclusivamente para contratar reserva de capacidade de baterias em 2025, as conversas começam a ser retomadas. A avaliação inicial das condições propostas para a participação de projetos no leilão, como o dimensionamento mínimo de 30 MW por quatro horas, é positiva. Mas ainda é necessário entender, por exemplo qual será o tratamento dado para os serviços ancilares que as baterias podem prestar para o sistema, além de estarem prontas para atender a necessidade de potência quando necessário.



Roberto Valer, diretor técnico da Huawei Digital Power.

Além de players do mercado fotovoltaico e de geração eólica, agentes da comercialização também têm manifestado interesse em fazer forte investimentos neste mercado, disse à pv magazine o diretor técnico da Huawei Digital Power, Roberto Valer.

"Mas existem algumas coisas, que a gente vai trabalhar na contribuição [à consulta pública] porque é preciso ser esclarecido, como o licenciamento ambiental, e o processo de outorga, já qe não está claro se o sistema será stand-alone ou poderá ser associado com uma geração. E se for com uma geração se ele vai ter alguma vantagem, né?", diz o diretor. Ele acrescenta que a Huawei está trabalhando próxima com as associações com a ABSAE e que também pretende fazer a própria contribuição em paralelo.

Atualmente, a Huawei têm um acordo de fornecimento de 750 MWh de BESS com a Matrix, que tem apostado no modelo battery as a service para popularizar a adoção da tecnologia entre consumidores comerciais. Além disso, tem um memorando de entendimento com a Agrekko para estudar soluções híbridas de baterias com geradores diesel.

A Scatec está acompanhando de perto os desdobramentos em torno do Leilão de Reserva de Capacidade anunciado para 2025, segundo o country manager da empresa no Brasil, Aleksander Skaare. "Com o anúncio recente de uma possível data para o leilão, nossas equipes estão revisando ativamente as diretrizes do leilão, conforme detalhado na Consulta Pública recente do Ministério de Minas e Energia (MME), e explorando várias aplicações que podem se alinhar a essa oportunidade. Paralelamente, estamos avaliando opções para aproveitar nosso portfólio solar existente, além de considerar novos potenciais projetos", diz o executivo.

A Scatec está explorando oportunidades para investir em Sistemas de Armazenamento de Energia em Bateria (BESS) no Brasil com objetivo de aproveitar a expertise adquirida em projetos globais bem-sucedidos. Por exemplo, na África do Sul, a empresa desenvolveu uma das maiores instalações híbridas de energia solar e armazenamento em bateria do mundo, o projeto Kenhardt, com 540 MW de energia solar e 225 MW/1.140 MWh de armazenamento em bateria. No Egito, assinou um contrato de compra de energia (PPA) de 25 anos, denominado em dólares, com a Egyptian Electricity Transmission Company (EETC) para um projeto híbrido de 1 GW solar e 100 MW/200 MWh de armazenamento em bateria, o primeiro desse tipo no país.


Aleksander Skaare, country manager da Scatec no Brasil.

No Brasil, a Sctaec atualmente avalia várias aplicações, incluindo estabilidade da rede, BESS autônomo ou sistemas integrados com energia renovável ou projetos híbridos, serviços auxiliares, entre outros. A experiência global dá confiança de que a empresa pode replicar esse sucesso no Brasil, caso surjam as oportunidades adequadas, avalia Skaare.

"Precisamos de clareza sobre os termos técnicos e comerciais dos contratos com as partes envolvidas, assim como as oportunidades de receitas complementares, como o aproveitamento do nosso portfólio atual ou a oferta de serviços auxiliares. Também será dada atenção especial às condições de acesso à rede, já que as conexões ainda são um desafio no Brasil. Além disso, a integração de novos ativos pode enfrentar prazos de comissionamento mais longos devido a requisitos recentes introduzidos pelo Operador Nacional do Sistema (ONS)", disse Skaare.

Há uma demanda reprimida por essas oportunidades no setor, avalia o diretor superintendente de Digital e Sistemas da WEG, Carlos Bastos Grillo. A companhia fornece desde os racks de bateria até os transformadores de média tensão e as subestações que farão a conexão desses sistemas ao Sistema Interligado Nacional. A solução inclui ainda o sistema de gerenciamento (EMS) e a implantação desses sistemas em regime chave na mão (turnkey).


Carlos Bastos Grillo, diretor superintendente de Digital e Sistemas da WEG.

"Desde o primeiro anúncio sobre uma possível inclusão de baterias nos leilões de reserva de capacidade a WEG tem sido procurada por esses atores e tem se preparado para atender a essa demanda. Em outros países, onde já comercializamos nossos sistemas, o volume de investimentos nessa área cresce de forma exponencial, especialmente por se tratar de uma tecnologia consolidada e um investimento com retorno bastante previsível", disse Grillo à pv magazine.

O tamanho mínimo dos projetos informado na consulta pública, de 30 MW por 4 horas, ou seja, 120 MWh, dá uma ideia dos investimentos que o governo pretende atrair nesse primeiro leilão e é um sinal claro de que o armazenamento está sendo reconhecido como uma ferramenta importante para descarbonizar, trazer modernização e flexibilidade ao sistema elétrico brasileiro avalia o executivo.

Atualmente a fábrica de baterias da WEG, que também produz packs de bateria para mobilidade elétrica, tem a capacidade de produzir até 1 GWh por ano. "Mas diante de uma sinalização de demanda é possível multiplicar essa capacidade rapidamente", garante Grillo.

Ele avalia que essa demanda fortalecerá a cadeia produtiva nacional de baterias, um tema considerado estratégico pelo Governo Federal, e trará investimentos importantes para o país, reafirmando sua posição de liderança no contexto da transição energética global.

Também de olho na possível demanda trazida pelo LRCAP 2025, a YOU.ON, responsável pelo maior sistema de armazenamento instalado no Brasil, na subestação de Registro, da ISA CTEEP, em São Paulo, passou por um processo de estruturação para atuar em projetos de grande porte, como os exigidos no leilão anunciado pelo governo.

"Estamos preparados para oferecer "soluções em armazenamento de energia" de ponta, como demonstrado no registro competitivo conduzido pela ISA CTEEP em 2021. Estamos atualmente avaliando a melhor estratégia para apresentar ao mercado nossas soluções de armazenamento com condições competitivas e tecnologia de última geração. Nos posicionamos como um provedor completo de armazenamento de energia", disse à pv magazine o diretor de Relações Institucionais da YOU.ON, Paulo Godoy.

A companhia avalia como decisões acertadas o requisito de potência e a escolha por sistemas com quatro horas de armazenamento, que "têm se mostrado mais competitivos internacionalmente", são decisões acertadas. "Além disso, permitir que esses sistemas ofereçam serviços ancilares ao Sistema Interligado Nacional (SIN) é essencial, pois amplia a flexibilidade e a resiliência da rede elétrica", acrescenta o diretor da empresa.

PV Magazine
https://www.pv-magazine-brasil.com/2024/10/11/empresas-estudam-participacao-no-leilao-de-reserva-de-capacidade-de-2025-e-comentam-condicoes-propostas/