China indica que aceita negociar novo acordo comercial com Trump

Mao Ning, porta-voz do Ministério do Exterior da China, durante entrevista coletiva em Pequim, em 24 de janeiro de 2025 - Divulgação/Ministério do Exterior da China -
Presidente americano afirmou acreditar em pacto com Pequim, o que gerou derrubada do dólar pelo mundo
Nelson de Sá
O regime do líder Xi Jinping indicou nesta sexta-feira (24) que a China pode aceitar a proposta de um novo acordo comercial mencionada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"Apesar das diferenças, os dois países têm enormes interesses comuns e espaço para cooperação", disse a porta-voz do ministério do exterior, Mao Ning.
A declaração em tom positivo vem um dia após entrevista de Trump à Fox News, onde o presidente americano afirmou ter tido uma "conversa amigável" com Xi na semana passada.
A sinalização de Trump fez o dólar desabar, chegando ao menor patamar em um mês na comparação com moedas de outros países. Isso porque, desde sua campanha presidencial, Trump tem falado em aumentar a tarifa sobre importações chinesas.
A menção a um acordo como alternativa às tarifas provocou uma reação positiva dos mercados financeiros. Pelo mundo, o índice do dólar caiu 0,67%. No Brasil, a moeda fechou a R$ 5,91, uma queda de 0,12%.
Na entrevista à Fox News, Trump foi questionado se faria um acordo com a China para práticas mais justas. "Eu posso fazer isso", afirmou.
Segundo ele, seu governo preferiria não usar tarifas contra a China, embora tenha chamado essa possibilidade de um "poder tremendo".
O presidente americano também disse que, na conversa com Xi, debateu questões como TikTok, comércio e Taiwan. "Tudo correu bem. Foi uma conversa boa e amigável."
Temos um poder muito grande sobre a China, que são as tarifas, e eles não as querem, e eu preferiria não ter que usá-las, mas é um poder tremendo sobre a China
Donald Trump
em entrevista à Fox News
Desde que assumiu o cargo, Trump tem falado sobre uma tarifa de 10% sobre as importações chinesas porque, segundo ele, o fentanil está sendo enviado da China para os EUA via México e Canadá.
Entretanto, ele não impôs imediatamente as tarifas quando tomou posse, como havia prometido durante sua campanha eleitoral. O republicano afirma que a medida entraria em vigor em 1º de fevereiro.
Questionada sobre a cobrança por Trump de um acordo mais "justo", que reduza o déficit comercial americano que ele chama de "ridículo", a porta-voz do ministério do exterior da China afirmou que Pequim "nunca buscou deliberadamente um superávit comercial com os EUA".
Na última terça-feira (21), o vice-primeiro-ministro Ding Xuexiang já havia declarado no Fórum Econômico Mundial, em Davos: "Nós não queremos superávit comercial. Nós queremos importar mais para promover um comércio equilibrado".
Sobre a nova ameaça de Trump de elevar tarifas, que ele descreveu como "um poder muito grande sobre a China" que os EUA podem usar, Mao Ning comentou que "guerras comerciais e tarifárias não têm vencedores e não são do interesse de ninguém".
Também questionado sobre as menções a tarifas pelo presidente americano, o Ministério do Comércio da China acrescentou que "a China está disposta a trabalhar com os EUA para promover o desenvolvimento estável, saudável e sustentável das relações comerciais".
Para além das reações de autoridades, o conhecido jornalista e influenciador de mídia social chinesa Hu Xijin comentou em vídeo no Weibo, com ironia, que "o tom de Trump mudou drasticamente" e ele deu "o ultimato mais suave da história".
Já um especialista em relações internacionais da Universidade Renmin, Jin Canrong, aconselhou, também em vídeo no Weibo: "Nós não devemos baixar a guarda. Trump ainda considera a China como um rival estratégico". Ele ecoa a cautela de outros acadêmicos chineses, que vêm alertando Pequim para não se deixar iludir pelo presidente dos EUA.
A possibilidade de um novo acordo comercial sino-americano causa apreensão no agro brasileiro. Há dois meses, em visita a Pequim, a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina, hoje senadora por Mato Grosso do Sul, alertou ser necessário "acompanhar muito de perto" as conversas entre Trump e a China.
O presidente americano "gosta de negociar e pode impor produtos agrícolas para a China", como fez no primeiro mandato com o acordo para a compra de mais soja americana. "Os EUA competem na área agrícola conosco de igual para igual", afirmou ela, em novembro.
Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2025/01/china-indica-que-aceita-negociar-novo-acordo-comercial-com-trump.shtml