ARMAZENE - Associação Brasileira de Armazenamento de Energia

Sem baterias, futuro das renováveis no Brasil é incerto

Imagem reproduz sistema de baterias usados para armazenar energia de fontes renováveis. Imagem: Divulgação Siemens -

Camila Maia

O armazenamento de energia elétrica por meio de baterias será fundamental para que a geração por fontes renováveis continue em expansão no Brasil a partir da próxima década. A avaliação é da Wood Mackenzie, consultoria global de soluções de dados e análises para energias renováveis, energia e recursos naturais.

A tecnologia das baterias para armazenar energia, conhecidas pela sigla em inglês BESS, ainda está em desenvolvimento, e tem presença crescente, mas ainda limitada no Brasil. Os sistemas podem ter múltiplos usos além do armazenamento de energia, como estabilizar a rede elétrica e os chamados "serviços ancilares", que basicamente tornam a rede mais confiável.

A partir de 2032, segundo a Wood Mackenzie, o armazenamento será essencial para evitar perdas e garantir o aproveitamento de toda a energia gerada, ainda mais quando combinado ao desenvolvimento da tecnologia que ajude a ampliar a duração das cargas.

Aumentar o aproveitamento das renováveis

A consultoria estima que até 2035, o Brasil vai instalar 76 GW em novas usinas das fontes eólica e solar fotovoltaica, o equivalente a mais de cinco usinas de Itaipu, terceira maior hidrelétrica do mundo. Esse crescimento ainda vem muito embalado em subsídios, cujo custo é suportado, em grande parte, pelos consumidores de energia.

O consumo de energia elétrica não vai crescer no mesmo ritmo, o que vai ampliar significativamente os cortes de geração de energia, conhecidos pelo termo em inglês "curtailment". Eles acontecem quando o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), responsável pela gestão do sistema elétrico do país, não acha caminhos para usar essa energia, por falta de consumo naquele momento ou por falta de espaço na rede de transmissão.

A projeção da consultoria é uma péssima notícia para os geradores renováveis, que já sofrem com os impactos financeiros da redução da geração. A Wood Mackenzie vê um aumento de 300% no curtailment até 2035. Quanto maior a geração renovável, maior o curtailment.

Quando o ciclo atual de crescimento das renováveis terminar, novos investimentos nessas fonte serão incertos, refletindo também outros desafios do mercado, como aumento dos impostos sobre importação de módulos fotovoltaicos e o custo crescente de uso da rede, que derrubam as taxas de retorno dos investimentos.

Armazenamento é a solução


"A construção de capacidade de transmissão sozinha não vai resolver o problema crescente do curtailment", disse Fernando Dorand, analista de energia da Wood Mackenzie. "Medidas de resposta da demanda e baterias vão ajudar a absorver a sobreoferta de energia no Nordeste. As baterias vão ajudar os geradores a converterem a energia que seria desperdiçada em oportunidades para arbitrar energia, revertendo as perdas", completou.

A arbitragem de energia implica em armazenar a eletricidade em momentos de preços mais baixos, quando há sobreoferta, e vender quando os preços estão mais altos, quando há mais demanda.

Enquanto mercados como o Chile já usam baterias em larga escala integradas à geração solar, o Brasil ainda discute as regras básicas para que esse tipo de projeto possa ser viável financeiramente.

Sem regras e sem leilão


Por aqui, ainda não há regras para a remuneração do serviço das baterias, incerteza que inviabiliza investimentos de maior porte.

A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) tem uma consulta pública sobre o tema aberta, mas não concluiu ainda a discussão sobre as regras. A limitação na atuação da agência causada pelos cortes no orçamento da União deve postergar ainda mais o processo. Nas últimas semanas, até as atividades de fiscalização da Aneel foram reduzidas, e a ouvidoria, principal canal de atendimento dos consumidores, foi suspensa.

Além disso, a Wood Mackenzie aponta que o alto custo da tecnologia faz com que sejam necessários incentivos, como um prometido leilão voltado para baterias. Qualquer adiamento dessa licitação pode comprometer as previsões de expansão da tecnologia.

O leilão tem sido prometido pelo governo desde 2024, mas ainda não saiu do papel, e tudo indica que será apenas em meados de 2026.

Uol
https://economia.uol.com.br/colunas/camila-maia/2025/07/02/sem-baterias-futuro-das-renovaveis-no-brasil-e-incerto.htm