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FT: A crescente presença do bilionário Carlos Slim no setor de energia do México

Carlos Slim - Foto: Luis Antonio Rojas/Bloomberg -

Empresário conseguiu este mês uma concessão de 30 anos para desenvolver energia geotérmica destinada à eletricidade em Celaya, Guanajuato, no centro do México

Por Jamie Smyth e Christine Murray, Em Financial Times - de Nova York e Cidade do México

O governo do México estabeleceu metas ambiciosas para o setor de energia, esperando acrescentar 22.000 megawatts (MW) de geração de eletricidade até 2030 e desenvolver novos campos capazes de produzir até 450.000 barris de petróleo por dia.

Enquanto a maioria dos investidores ainda examina o novo plano, um deles avançou com sua discreta expansão de uma década no setor: o bilionário Carlos Slim.

Slim, cujo império de telecomunicações fez dele o homem mais rico do mundo por vários anos, conseguiu este mês uma concessão de 30 anos para desenvolver energia geotérmica destinada à eletricidade em Celaya, Guanajuato, no centro do México.

Isso se soma a uma lista crescente de investimentos significativos que ele mantém no setor, incluindo campos de petróleo, campos de gás, dutos e plataformas da Pemex, a endividada estatal de petróleo mexicana.

Suas empresas atuam no setor de energia há anos, mas sua expansão coincidiu com a abertura do setor mexicano a um maior investimento privado uma década atrás, que permitiu ao seu Grupo Carso passar a operar diretamente campos de exploração.

"Carlos não dá um passo até enxergar que um negócio ou projeto é lucrativo", diz o consultor de energia e economia Ramses Pech. "Ele começou com equipamentos, serviços... Sua empresa vem crescendo pouco a pouco."

Não é nenhum segredo que a infraestrutura de energia do México precisa urgentemente de novos investimentos. O ex-presidente Andrés Manuel López Obrador freou o avanço dos operadores privados, alterando as regras para favorecer os grupos estatais de energia e suspendendo concessões.

Agora, a rede elétrica do país dá sinais de colapso, sofrendo apagões nos horários de pico, enquanto a produção de petróleo da Pemex encontra-se perto de mínimas históricas e a empresa acumula dívidas de US$ 100 bilhões.

A presidente Claudia Sheinbaum, engenheira especializada em energia, despertou expectativas de mudanças no setor, incluindo regras mais favoráveis ao capital privado e uma aposta em energias renováveis. No geral, porém, ela está limitada por um déficit fiscal gigantesco e pela decisão de manter boa parte da estrutura sob o domínio estatal estabelecido por seu antecessor.

Os investidores ainda aguardam detalhes sobre as regulamentações que darão sustentação às novas leis que regem o setor elétrico, bem como uma série de novos contratos "híbridos" de parceria público-privada com a Pemex.

Mas Slim já está envolvido até o pescoço em dois dos mais importantes projetos de energia no país: o campo de gás natural de Lakach e o campo de petróleo de Zama. Estima-se que Lakach contenha cerca de 900 bilhões de pés cúbicos de gás. Caso entre em produção, poderá ser um trunfo para o governo de Sheinbaum, que tenta reduzir a dependência das importações dos Estados Unidos em meio a tensões bilaterais com Trump.

Zama - uma das maiores descobertas de petróleo do México nos últimos anos - foi alvo de uma disputa entre a Pemex e a empresa privada Talos Energy pela propriedade. Durante o embate, Slim comprou uma participação na Talos e hoje controla 80% da subsidiária mexicana da companhia, que por sua vez detém 17,4% do campo. A Talos afirmou que poderá produzir 180.000 barris por dia, mais de 10% da produção atual do México.

Slim tem muitas vantagens sobre seus concorrentes, incluindo a escala de seus conglomerados, que abrangem toda a economia, a profundidade de seus recursos financeiros e sua relevância para qualquer governo mexicano que esteja no poder. Suas empresas continuaram, em grande parte, se saindo bem durante o governo de López Obrador.

Ele e sua família perderam posições na lista dos mais ricos para fundadores de empresas de tecnologia, mas ainda ocupam o 19º posto no ranking global da revista "Forbes", com uma fortuna estimada em US$ 102,8 bilhões.

"A vantagem competitiva de Carlos Slim é que ele tem um respaldo financeiro, possui empresas das quais pode obter empréstimos... Isso é um dos grandes diferenciais", diz Pech.

A unidade de energia do Grupo Carso também mantém contratos de transporte de gás com a estatal de eletricidade CFE, além de duas usinas hidrelétricas no Panamá. Mais cedo este ano, em sua coletiva anual à imprensa, ele disse estar interessado em hidrogênio verde e destacou que a energia solar está ficando mais atraente.

A Pemex deve finalizar ainda este mês seus novos contratos para campos de petróleo e gás em todo o país. Segundo a imprensa local, a empresa de Slim poderá ser uma das maiores participantes. Um representante do Grupo Carso preferiu não fazer comentários.

Valor
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2025/09/16/ft-a-crescente-presena-do-bilionrio-carlos-slim-no-setor-de-energia-do-mxico.ghtml