Cortes obrigatórios de geração para evitar apagões levam empresas a suspender projetos de energia solar e eólica
Parada obrigatória: geração de energia eólica e solar cai no Brasil com cortes impostos pelo ONS para garantir segurança do sistema elétrico - Foto: Mikael Sjoberg/Bloomberg -
ONS aumenta 'curtailments', interrupções na produção de fontes renováveis, para evitar sobrecarga no sistema elétrico nacional. Empresas do setor acumulam prejuízos e adiam investimentos
Por Bruno Rosa e Bernardo Lima - Rio e Brasília
O aumento exponencial da geração de energia solar e eólica nos últimos anos levou o Brasil a uma situação inusitada: o Operador Nacional do Sistema (ONS) tem determinado cortes forçados nessa geração limpa para não sobrecarregar o sistema, os chamados curtailments.
Isso ocorre porque a oferta de energia tem superado a demanda do país, e o desequilíbrio gera risco ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Questões técnicas impedem "desligar" termelétricas e hidrelétricas imediatamente - por isso, o corte recai sobre a fontes solar e eólica.
Neste ano, o corte obrigatório de geração chegou a 18,5% do total das duas fontes, aponta levantamento da consultoria Volt Robotics, provocando prejuízos que já levam empresas a suspender investimentos. Foram 4,3 mil GWh que deixaram de ser gerados, volume 230% superior ao montante de redução forçada de todo o ano de 2024 e equivalente ao consumo mensal do Paraná.
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Parque eólico em Pecém, no Ceará - Foto: Domingos Peixoto/Agência O Globo
Relatório do Itaú BBA estimou que os cortes chegaram a 26,4% da geração de eólicas e solares só em agosto e cresceram 85% ante a igual mês de 2024 e 20% em relação a julho deste ano. Cálculo similar foi feito pelo BTG Pactual.
As associações de geradores eólicos e solares, Absolar e Abeeólica, dizem que as perdas financeiras decorrentes dos cortes cresceram 36% desde o ano passado e chegam a R$ 6,6 bilhões só em 2024 e 2025. Os prejuízos subiram quase 40% neste ano em relação a 2024: R$ 3,8 bilhões até setembro, calcula a Absolar.
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Entenda o curtailment - Foto: Editoria de Arte
Especialistas dizem que os curtailments tendem a aumentar - já que empresas indicam nível elevado de interrupções em setembro - e devem continuar ao menos até 2035. Os cortes viraram um fator de incerteza. Companhias já buscam renegociar financiamentos de projetos, acendendo um sinal amarelo entre instituições financeiras.
Fábio Bortoluzo, líder no Brasil da Atlas, que desenvolve projetos solares no país, diz que R$ 30 bilhões em novos projetos podem não sair do papel.
- Nos piores casos, temos visto cancelamentos de alguns projetos - completa Francisco da Silva, diretor da Abeeólica. - Os empreendedores, que muitas vezes já haviam se mobilizado, até mesmo feito algumas audiências públicas nos locais onde iam realizar obras de parques eólicos, estão sendo orientados pelas matrizes dessas empresas a cancelar os contratos porque se tornaram extremamente caros.
'Não é justo'
Rodrigo Sauaia, presidente da entidade, diz que conjuntos solares com menos de um ano de operação chegam a enfrentar cortes de 70% de sua geração, comprometendo contratos com clientes e fornecedores e financiamentos de longo prazo com bancos.Ele estima que o setor esteja perdendo um terço do faturamento com os cortes:
- Não é justo que esses geradores sejam punidos financeiramente com esse prejuízo, que está pondo em risco o pagamento dos compromissos financeiros das empresas, com os seus fornecedores, com as suas instituições, com os seus financiadores e até mesmo internamente, junto à sua estrutura, sua equipe. Como é que você faz para pagar os custos e a operação, sendo que as empresas estão tendo em média um terço do seu faturamento inviabilizado, prejudicado, cortado?
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Usina de energia solar em Rondônia - Foto: Edilson Dantas
Donato Filho, diretor-geral da Volt Robotics, diz que os cortes se concentram em Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco:
- A situação é insustentável e coloca em risco o segmento de geração renovável do Brasil. Somente em agosto, 57% da energia renovável foram cortados por excesso de geração. Os cortes de geração renovável registrados entre janeiro e agosto de 2025 correspondem a 17,2% da produção que poderia ter sido realizada. Isso equivale a 7% do consumo médio total do Brasil por mês ou ao consumo mensal total do estado do Paraná.
Para evitar apagões
Os cortes de geração são feitos em tempo real pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) para evitar sobrecarga no Sistema Interligado Nacional (SIN). Passaram a ser mais frequentes a partir do apagão de agosto de 2023, quando 25 estados e o Distrito Federal ficaram sem energia com uma pane provocada por um pico de geração solar.Quando são "desligadas", usinas eólicas e solares são obrigadas a comprar energia no mercado livre para cumprir seus contratos de fornecimento a clientes, gerando prejuízos.
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Curtailments crescem no Brasil - Foto: Editoria de Arte
Interrupções são mais frequentes entre 9h e 16h, quando há maior intensidade solar, mas variam conforme a demanda de eletricidade. Nos fins de semana os cortes de geração dobram, com o menor consumo de indústria e comércio aumentando o desequilíbrio no SIN. No Dia dos Pais, em 10 de agosto, os cortes chegaram a 98,5% da capacidade de algumas usinas. O impacto é direto no caixa das geradoras, diz Bortoluzo:
- Os investimentos estão freando bruscamente. Hoje, cerca de R$ 30 bilhões em propostas de investimento podem não sair do papel. A eólica praticamente não terá mais expansão. A solar, depois de 2027, não deve crescer muito. Mas os impactos vão além. Vamos ver uma energia mais cara nos próximos anos, pois a ampliação vai ocorrer com base em fontes mais caras e poluentes. E isso acontece em um momento em que há expansão de data centers (grandes consumidores de energia) no mundo. Sem novos projetos de geração competitiva para os próximos anos, o Brasil vai perder espaço.
Rubens Brandt, CEO do Grupo Energia, que atua em geração, transmissão e distribuição, observa que os cortes vêm num momento de juros altos e desaceleração da economia, o que tende a baixar o consumo de energia, aumentando o desequilíbrio.
O executivo vê um cenário "catastrófico" e conta que o grupo suspendeu R$ 4,6 bilhões em investimentos na construção de um parque solar na Bahia, o Projeto Apia, e adiou de 2027 para 2029 um outro, tocado em parceria com outra empresa:
- O projeto Apia não vai mais existir. Já era. Não dá para dizer que cortes não iriam acontecer, mas não nessa proporção nem com esse horizonte para ter esse problema resolvido - diz Brandt, acrescentando que o curtailment afasta também empresas consumidoras que planejavam investir em geração própria.
Situação não muda no curto prazo
Para Edvaldo Santana, ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), os cortes seguirão até 2035. Lívia Fiuza, diretora-geral da Lightsource BP no Brasil, estima que vão aumentar, ficando na casa dos 30% até 2029.Roberto Colindres, CEO da Rio Energy, subsidiária da petroleira norueguesa Equinor para energia limpa no Brasil, lembra o crescimento muito forte das fontes renováveis no país em poucos anos. Para ele, agora o curtailment impõe uma revisão nos planos da empresa, que adiou um projeto solar de 400 MW na Bahia.
A usina hidrelétrica de Baihetan está equipada com 16 unidades geradoras hidrelétricas, cada uma com capacidade de 1 mil
- A questão é a previsibilidade. Quando propomos um investimento, estamos falando de bilhões de reais e, no mínimo, 30 anos. E o curtailment se tornou uma premissa-chave. Nos últimos meses, tivemos interrupções de 25% e, em alguns momentos, isso chegou a 50%. Você não sabe qual será a sua receita - queixa-se.
E continua:
- Queremos investir, mas o ambiente é desafiador. Hoje, somos forçados a vender menos energia, porque não sabemos se vamos gerar ou não. Temos de lidar com isso a preço de mercado. Se houver um corte alto, temos que ir ao mercado (comprar energia) para cumprir o contrato.
Estevão Franco, gerente de Energias Renováveis da ArcelorMittal Aços Longos, outra citada, teme que a alta frequência de curtailments afete negócios e contratos firmados, elevando tarifas:
- Fazemos uma gestão ativa do portfólio de energia, aproveitando períodos de preços baixos para comprar ou períodos de altos preços para vender alguma sobra localizada.
Para Jean Paul Prates, ex-presidente da Petrobras e chairman do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), o Brasil vive uma contradição ao promover cortes após ampliar com sucesso a participação de eólicas e solares na matriz elétrica, e tem risco de aumentar ainda mais o custo da energia:
- Esse paradoxo encarece a conta, pressiona subsídios e alimenta a narrativa equivocada de que as renováveis atrapalham a rede. O problema não está nas fontes, mas na falta de flexibilidade do sistema elétrico e na ausência de sinais econômicos para aproveitá-la. É preciso acelerar soluções digitais e novas ferramentas de gestão.
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A pressão das empresas que estão perdendo dinheiro com os curtailments já chegou ao governo e ao Congresso, com o risco de que os prejuízos terminam compensados com encargos nas contas de luz, levando todos os consumidores a dividir a conta. É uma prática recorrente que os especialistas apontam como uma das razões do alto custo da energia num país com oferta excedente.
- Tem um ingrediente incontrolável, que é a geração distribuída. Durante o dia, em alguns momentos é produzida mais energia do que o necessário, e o ONS precisa desligar o que está ao alcance dele, nas grandes usinas centralizadas - diz Fontoura Filho.
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E continua:
- Queremos investir, mas o ambiente é desafiador. Hoje, somos forçados a vender menos energia, porque não sabemos se vamos gerar ou não. Temos de lidar com isso a preço de mercado. Se houver um corte alto, temos que ir ao mercado (comprar energia) para cumprir o contrato.
Clientes em alerta
Empresas que compram energia de parques eólicos e solares, como Gerdau, Votorantim Cimentos, Albras e Dow Química têm expressado preocupações com o custo futuro dessa fatura em reuniões com as geradoras, apontam executivos do setor. As companhias preferiram não comentar.Estevão Franco, gerente de Energias Renováveis da ArcelorMittal Aços Longos, outra citada, teme que a alta frequência de curtailments afete negócios e contratos firmados, elevando tarifas:
- Fazemos uma gestão ativa do portfólio de energia, aproveitando períodos de preços baixos para comprar ou períodos de altos preços para vender alguma sobra localizada.
'Paradoxo encarece a conta'
Agentes do setor pressionam governo e Congresso por soluções, que passam por expansão de linhas de transmissão e leilões de armazenamento de energia em baterias, mas também envolvem ressarcimentos que podem terminar nos encargos das contas de luz dos consumidores.Para Jean Paul Prates, ex-presidente da Petrobras e chairman do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), o Brasil vive uma contradição ao promover cortes após ampliar com sucesso a participação de eólicas e solares na matriz elétrica, e tem risco de aumentar ainda mais o custo da energia:
- Esse paradoxo encarece a conta, pressiona subsídios e alimenta a narrativa equivocada de que as renováveis atrapalham a rede. O problema não está nas fontes, mas na falta de flexibilidade do sistema elétrico e na ausência de sinais econômicos para aproveitá-la. É preciso acelerar soluções digitais e novas ferramentas de gestão.
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O ex-presidente da Petrobras Jean Paul Prates - Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
A pressão das empresas que estão perdendo dinheiro com os curtailments já chegou ao governo e ao Congresso, com o risco de que os prejuízos terminam compensados com encargos nas contas de luz, levando todos os consumidores a dividir a conta. É uma prática recorrente que os especialistas apontam como uma das razões do alto custo da energia num país com oferta excedente.
Geração distribuída agrava problema
Edvaldo Santana lembra que um dos imbróglios é o aumento da micro e minigeração distribuída, por meio de placas fotovoltaicas nos tetos de casas e prédios. Roberto Fontoura Filho, especialista em energia e professor da Uerj, explica que o ONS não tem controle sobre a injeção de energia dessas placas no sistema elétrico, dificultando ainda mais o equilíbrio e a penalização das usinas eólicas e solares integradas.- Tem um ingrediente incontrolável, que é a geração distribuída. Durante o dia, em alguns momentos é produzida mais energia do que o necessário, e o ONS precisa desligar o que está ao alcance dele, nas grandes usinas centralizadas - diz Fontoura Filho.
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Placas instaladas em residência em Sorocaba (SP) - Foto: Go Green
O ONS estima que a gestão distribuída responderá por 33% da matriz elétrica do país em 2029. Hoje, a capacidade instalada é de 17,8% da matriz elétrica, mas o segmento chegou a responder por 37,6% do consumo do país no Dia dos Pais, por exemplo. A Aneel também identificou pico parecido em 4 de maio.
- Houve estímulo ao avanço da energia solar distribuída, com incentivos e subsídios por diversas medidas provisórias. Isso levou a um grande aumento dos projetos. Como os cortes devem continuar elevados, existe o risco real desse prejuízo chegar ao consumidor final. Por enquanto, o investidor dos parques centralizados está absorvendo as perdas e reclamando junto ao governo. Já houve diversos pedidos à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para que o custo seja repassado aos consumidores, mas até agora esses pleitos não foram acolhidos - explica Santana.
A Abradee, que reúne distribuidoras de energia, teme uma solução nessa linha, diz Ricardo Brandão, diretor-executivo de Regulação da entidade:
- Esse é o risco, quando observamos as propostas em discussão na Aneel. A tarifa já é alta, e falar em novos aumentos vai reduzir a competitividade de toda a economia.
O que dizem Aneel e ONS
Procurada, a agência informou que ainda não há definição sobre como os prejuízos serão equalizados, já que o tema é alvo de uma consulta pública. A Aneel admitiu que algumas associações entraram com recurso para que esses custos fossem repassados aos consumidores, mas reforçou que o pleito foi negado pela diretoria da agência. Na sexta-feira, houve uma nova reunião na Aneel com o ONS e distribuidoras de energia para discutir soluções, entre elas mecanismos de controle da geração distribuída./i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/K/j/xHge4ERFSVuzV8T7RuTA/91372363.jpg)
Edvaldo Santana, professor titular do Departamento de Economia da UFSC e ex-diretor da Aneel - Foto: Divulgação
O presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Carlos Evangelista, diz que os sistemas residenciais não têm relação com o curtailment. Para ele, o problema decorre de "falta de planejamento na expansão da transmissão" de energia por parte do governo e na autorização de "grandes blocos de geração centralizada sem a devida capacidade de escoamento". E avalia que a solução passa pelo incentivo a sistemas de armazenamento de energia em baterias.
Em nota, ONS informou que os cortes necessários para a segurança do sistema são distribuídos de forma isonômica entre todos os agentes geradores: "O ONS não prioriza uma ou outra fonte específica para definir a restrição de geração. As decisões operativas são sempre pautadas pela segurança do SIN e pela garantia do atendimento à demanda de energia em todo o país".
Soluções possíveis
Se a perspectiva é de continuidade dos curtaliments na geração, especialistas recomendam soluções na outra ponta, como estimular atividades econômicas que poderiam aproveitar essa energia limpa perdida. É o caso dos data centers que as big techs espalham pelo mundo estimuladas pela alta demanda de processamento (e energia) dos sistemas de inteligência artificial (IA) e que já têm incentivos do governo.Outra intervenção na demanda citada seria um programa de incentivo do uso de energia durante as manhãs, quando a demanda é menor poderiam contar com medidores inteligentes para aplicar descontos.
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Até 2027, a previsão é de novos dois mil quilômetros de linhas de transmissão instalados em cinco estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco e Piauí - Foto: Divulgação
Na avaliação de Luiz Carlos Pereira, professor de engenharia elétrica da Unicamp, a expansão da malha de linhas transmissão aumentaria a capacidade do SIN de redirecionar, por exemplo, a energia eólica excedente, produzida predominantemente no Nordeste, para o Sudeste, onde há maior consumo. Para ele, a nova realidade das fontes renováveis impõe ao país a necessidade de reforçar a infraestrutura do sistema elétrico:
- Em algumas situações, em alguns momentos, não há consumo local no Nordeste suficiente para absorver toda a geração renovável de lá. Não há capacidade adicional de transmissão, os corredores de transmissão estão no limite. Tem de haver expansão da infraestrutura.
Outra saída é a introdução das novas tecnologias de armazenamento de energia com sistemas de grandes baterias. A energia gerada em excesso em alguns horários do dia e que poderia ser usada em outro momento. No entanto, o governo ainda trabalha na regulação e formatação dos primeiros leilões dessa modalidade.
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Tecnologia. Baterias para armazenar energia renovável em Wilsonville, nos Estados Unidos: alternativa para aproveitar energia excedente - Foto: Tojo Andrianarivo/Bloomberg/28-9-2021
- O curtailment exige diversas soluções, como o replanejamento do SIN. Não basta reforçar e desenvolver um modelo com maior penetração de renováveis na matriz, pois hoje ela é diferente do que era no passado, mais voltada a fontes hidrelétricas. E para isso, precisa-se redesenhar o sistema, considerando essa nova realidade - diz, Brandt, do Grupo Energia.
O Ministério de Minas e Energia (MME) afirmou que criou um grupo de trabalho para tratar do tema em março deste ano e que encaminhou medidas como a elaboração de diagnósticos técnicos sobre a natureza e a magnitude dos cortes e propostas de soluções regulatórias e operacionais, além de priorizar obras de transmissão e instalação de equipamentos que aumentem a confiabilidade da rede.
Havia a expectativa de que medidas para mitigar os cortes entrassem no texto da MP 1.300, do setor elétrico, o que não aconteceu. O relator do texto, deputado federal Fernando Coelho Filho (União-PE), afirmou que o problema deve ser tratado na MP 1.304, após acordo com o relator da matéria, senador Eduardo Braga (MDB-AM). Entre todas as opções, essa via legislativa é vista como a mais viável por representantes do setor.
O Globo
https://oglobo.globo.com/economia/negocios/noticia/2025/09/22/cortes-obrigatorios-de-geracao-para-evitar-apagoes-levam-empresas-a-suspender-projetos-de-energia-solar-e-eolica.ghtml