ARMAZENE - Associação Brasileira de Armazenamento de Energia

Folha de S.Paulo: Armazenamento de energia cresce no mundo

Operário em uma linha de produção de baterias elétricas em Hefei, leste da China - WU XIAOLING/Xinhua

Baterias em escala de rede estão finalmente decolando, com China na liderança

Descarbonizar o fornecimento de eletricidade do mundo exigirá mais do que painéis solares e turbinas eólicas, que dependem da luz do sol e de uma brisa constante para gerar energia. O armazenamento em escala de rede oferece uma solução para esse problema de intermitência, mas há muito pouco disso disponível.

A Agência Internacional de Energia (AIE), que faz estimativas oficiais, avalia que a capacidade global instalada de armazenamento de bateria precisará aumentar de menos de 200 gigawatts (GW) registrados em 2023 para mais de um terawatt (TW) até o final da década, e quase 5 TW até 2050, se o mundo quiser atingir emissões líquidas zero. Felizmente, porém, o negócio de armazenar energia na rede está finalmente sendo turbinado.

O armazenamento em escala de rede dependia, tradicionalmente, de sistemas hidrelétricos que moviam água entre reservatórios no topo e na base de uma encosta. Hoje em dia, baterias gigantes empilhadas em fileiras de galpões são cada vez mais o método de escolha.

De acordo com a AIE, 90 GW de armazenamento de bateria foram instalados globalmente no ano passado, o dobro da quantidade em 2022, dos quais cerca de dois terços foram para a rede e o restante para outras aplicações, como energia solar residencial.

Os preços estão caindo e novos produtos químicos estão sendo desenvolvidos. A consultoria Bain estima que o mercado de armazenamento em escala de rede pode crescer de cerca de US$ 15 bilhões (R$ 83,5 bilhões) em 2023 para entre US$ 200 bilhões (R$ 1,1 trilhão) e US$ 700 bilhões (R$ 3,9 trilhões) até 2030, e US$ 1 trilhão (R$ 5,6 trilhões) a US$ 3 trilhões (R$ 16,7 trilhões) até 2040.

Uma queda no preço das baterias de lítio está alimentando sua adoção na rede. De acordo com a empresa de pesquisas Bloomberg NEF, o preço médio das baterias de lítio estacionárias por quilowatt-hora de armazenamento caiu cerca de 40% entre 2019 e 2023.

Uma desaceleração global na adoção de veículos elétricos (VEs), que funcionam com tecnologia semelhante, levou os fabricantes de baterias a se interessarem mais pelo armazenamento na rede. Em 2019, as baterias de lítio estacionárias eram quase 50% mais caras do que as usadas em VEs; essa diferença caiu para menos de 20% à medida que os produtores se acumularam.

A AIE avalia que a energia solar combinada com baterias agora é competitiva com a eletricidade gerada a carvão na Índia e está a caminho de ser mais barata do que a energia gerada a gás na América em alguns anos.

O centro da produção global de baterias é a China. É o lar de quatro dos cinco maiores fabricantes do mundo, incluindo CATL e BYD. A parcela da produção de baterias da China destinada ao armazenamento estacionário aumentou de quase nada em 2020 para cerca de 20% no ano passado, ultrapassando a parcela usada em eletrônicos de consumo. O crescimento foi ajudado por políticas internas que exigem que grandes projetos solares e eólicos também instalem armazenamento.

As empresas de baterias da China são intensamente inovadoras. A CATL, por exemplo, aumentou seu investimento em pesquisa e desenvolvimento oito vezes desde 2018, para US$ 2,5 bilhões (R$ 13,9 bilhões) no ano passado. A BYD, que investiu pesadamente em robótica e inteligência artificial, construiu uma instalação de baterias na cidade chinesa de Hefei que é quase totalmente automatizada.

Mas a indústria também está nadando em excesso de capacidade. De acordo com a Bloomberg NEF , a China já produz baterias de lítio suficientes para satisfazer a demanda global de todos os tipos. Sua indústria anunciou planos para mais 5,8 terawatts-hora (TW h) de capacidade até 2025, mais que o dobro da capacidade global atual de 2,6 TW h.



Um modelo de carro Yangwang, marca de luxo da BYD, no salão do automóvel em Xangai, China, 19 de abril de 2023 - QILAI SHEN/NYT

Isso será catastrófico para muitas empresas na indústria de baterias, incluindo aquelas que produzem para a rede. De acordo com a Benchmark Mineral Intelligence, outra empresa de pesquisa, a construção de 19 gigafábricas de baterias na China foi cancelada ou adiada nos primeiros sete meses de 2024. O colapso nos preços também atingiu muitas startups ocidentais de baterias.

Um exemplo é a Northvolt da Suécia, vista por alguns como a resposta da Europa aos campeões da China. No ano passado, ela relatou um prejuízo de US$ 1,2 bilhão (R$ 6,7 bilhões), acima dos US$ 285 milhões (R$ 1,6 bilhão) em 2022. A consequência de tudo isso provavelmente será uma onda de consolidação, como Robin Zeng, o chefe da CATL, previu no início deste ano.

Mesmo assim, um banho de sangue entre os fabricantes de baterias pode ajudar, em vez de prejudicar, a adoção do armazenamento de baterias. Os preços podem cair ainda mais, pois as empresas mais produtivas conquistam uma fatia maior do mercado.

A competição acirrada já está estimulando a inovação, pois as empresas buscam novas tecnologias para ajudá-las a competir. As baterias de íons de sódio são uma alternativa promissora. Elas não exigem lítio caro e, embora ofereçam menor densidade de energia, isso é um problema menor para baterias estacionárias do que para aquelas que alimentam EVs .

Os titulares estão correndo para desenvolver a tecnologia para a rede. Várias startups também estão apostando alto nisso. A Natron, uma empresa americana apoiada pela Chevron, uma gigante do petróleo, está investindo US$ 1,4 bilhão (R$ 7,8 bilhões) para construir uma fábrica de baterias de íons de sódio na Carolina do Norte, que deve ser inaugurada em 2027. Landon Mossburg, o presidente-executivo da Peak Energy, uma startup de íons de sódio, diz que quer que sua empresa seja "a CATL da América".

Tom Jensen, o chefe da Freyr Battery, outra startup, acha que a única maneira de as empresas ocidentais de baterias conseguirem competir é com novas tecnologias. A lista de abordagens inovadoras está crescendo. A EnerVenue, mais uma startup, está comercializando uma bateria de níquel-hidrogênio. A empresa levantou mais de US$ 400 milhões (R$ 2,2 bilhões) e construirá uma fábrica no Kentucky que espera que produza baterias baratas que possam armazenar energia por longos períodos.

Aumentar a potência

Essas novas tecnologias são adequadas para atender à crescente demanda por energia para os data centers, que os gigantes da tecnologia estão ansiosos para operar com energia renovável.

O fato de que as baterias de íons de sódio são menos propensas a pegar fogo do que as de lítio as torna particularmente atraentes para empresas de tecnologia, principalmente porque reduz o custo do seguro, observa Jeff Chamberlain, o chefe da Volta Energy Technologies, uma empresa de investimentos focada no negócio de armazenamento de energia.

Colin Wessels, o codiretor da Natron, observa que sua startup planeja fornecer baterias principalmente para data centers.


A empresa chinesa Spic, maior do mundo quando o assunto é geração de energia solar, acaba de estrear nesse segmento no Brasil com a inauguração de dois empreendimentos no Nordeste. - Rubens Cavallari/Folhapress

A rápida implementação de data centers também está levando a lacunas na infraestrutura de rede necessária para produzir e transmitir energia, que baterias de longa duração, como as da EnerVenue, poderiam ajudar a preencher.

Aaron Zubaty, chefe da Eolian, uma desenvolvedora de energia renovável, prevê um boom em soluções de armazenamento de quatro a oito horas para lidar com a crescente demanda em redes de energia na próxima década.

O armazenamento em larga escala está avançando rapidamente. "As baterias fizeram em cinco anos o que a energia solar levou 15 anos", observa um analista veterano do boom solar, que agora cobre a indústria.

Como resume Fatih Birol, chefe da AIE: "As baterias estão mudando o jogo diante dos nossos olhos."

Texto do The Economist, traduzido por Daniele Madureira, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com

Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2024/09/armazenamento-de-energia-em-larga-escala-pode-virar-negocio-de-us-1-tri-em-energia-limpa.shtml