ARMAZENE - Associação Brasileira de Armazenamento de Energia

Com painéis solares portáteis e uma bateria, homem vive desconectado da rede elétrica de Nova York

Joshua Spodek guarda um de seus painéis solares após quatro horas de carregamento no Washington Square Park - Meghan Marin/NYT

Joshua Spodek busca minimizar impactos climáticos do dia a dia e inspirar movimento sustentável

John Leland

Quanto tempo você aguentaria sem sua geladeira? E sem o fogão, as luzes, a cafeteira, o micro-ondas ou a televisão? Em maio de 2022, Joshua Spodek desconectou seu apartamento em Greenwich Village da rede elétrica para ver se conseguia viver desligado por um ano.

Dois anos e meio depois, ele ainda está fora da rede e lançou um novo livro que, em um subtítulo modesto, propõe ser um guia para "Resolver Todos (Sim, Todos) os Nossos Problemas Ambientais."

Viver fora da rede sempre foi uma fantasia atraente: instalar painéis solares no quintal ao lado da horta orgânica e deixar a energia fluir. Mas fazer isso em um kitnet em Nova York é algo diferente.

Spodek, 53, coach executivo e ex-professor adjunto de liderança e empreendedorismo na Universidade de Nova York, é fácil de identificar no bairro. Em uma tarde ensolarada de outubro, no Washington Square Park, a poucos quarteirões de seu apartamento, ele era o cara com quatro painéis solares espalhados no gramado atrás dele.

Quase todos os dias nos últimos 30 meses, Spodek carregou painéis solares e uma bateria de oito quilos para cima e para baixo por 11 andares até seu telhado para carregá-los. (Usar o elevador seria trapaça, em termos de eletricidade.) Com quatro horas de sol, o sistema gera energia suficiente para alimentar seu laptop, celular e panela de pressão elétrica. O equipamento custou cerca de US$ 700 (R$ 3,9 mil) no Craigslist.

Ele estava no parque nesse dia porque o telhado de seu prédio estava em obras. "O que significa que eu tive que pedir às pessoas para cuidarem das minhas coisas quando fui ao banheiro", disse. "Enquanto no meu prédio eu poderia apenas descer."

A vida de Spodek teve muitas reviravoltas. Ele já foi empreendedor de publicidade, coach de relacionamentos, educador, blogueiro, podcaster, maratonista e policial voluntário.

Mas mesmo antes de se desconectar, ele já se dedicava a outros desafios ambientais. Em 2015, ele decidiu evitar todas as embalagens de alimentos para reduzir o volume de lixo que enviava para aterros sanitários. Ele comprava apenas frutas e verduras soltas, e alimentos a granel como feijões e nozes.

"No início, não era nada delicioso", admitiu. "Mas eu continuei e, eventualmente, a comida começou a ficar muito boa. Recebia mais amigos em casa."

No ano seguinte, ele desistiu de voar de avião, por conta dos impactos climáticos que isso causa.

Depois, ele se desafiou a recolher três pedaços de lixo todos os dias de um canto do Washington Square Park, conhecido como ponto de encontro para usuários e traficantes de drogas. "Achei que, ao aparecer, eles poderiam se abrir para mim, e eu poderia aprender algo. Isso não aconteceu."

Uma coisa ele aprendeu, através da experiência: não recolha lixo de locais preferidos por cães.

Ainda assim, ele continuou a limpar e a evitar aviões e alimentos embalados. "Não precisei esvaziar meu lixo há mais de um ano", disse ele. Seu site mantém uma contagem contínua de seus burpees, um exercício semelhante a um agachamento com salto. É bastante.

Houve complicações. Por exemplo, ele teve que desistir de namorar. "Eu sabia que, ao deixar a cultura convencional, seria difícil", considerou. "E eu conscientemente decidi que não vou me esforçar nisso. Estou focando nisso. Não vou ser um monge, mas estou canalizando um pouco disso."

Quando o tempo ficou nublado e nevado no último inverno -apenas dois dias ensolarados em um período de 3 semanas e meia- sua bateria ficou fraca, e ele teve que limitar sua dieta a vegetais crus e cortar quase todas as comunicações. "Eu não conseguia falar com as pessoas ao telefone. Mas o que eu lembro é que estava lendo mais, meditando mais, dormindo mais. Tive que escrever à mão. Fiz alguns grandes avanços porque tive tempo para pensar."

Há críticas. Muitos no movimento ambiental sentem que concentrar-se no consumo pessoal, como Spodek faz, favorece as empresas de combustíveis fósseis. O conceito de pegada de carbono, por exemplo, foi popularizado por uma campanha publicitária de 2004 da BP, e a indústria do petróleo gasta milhões para promover a reciclagem de plásticos, embora muito pouco plástico seja realmente reciclável.



Joshua Spodek ajusta um dos dispositivos de seu apartamento em West Village - Meghan Marin/NYT

"Este é um debate animado dentro da comunidade ambiental", disse Michael Gerrard, diretor do Sabin Center for Climate Change Law na Universidade de Columbia. "Quanto devemos focar na demanda? A única maneira de realmente nos afastarmos dos combustíveis fósseis é reduzir significativamente a demanda por eles."

Para esse fim, Spodek tem convidado pessoas para participar de workshops virtuais para aprender a fazer o que ele faz: não se desconectar completamente, mas fazer pelo menos uma mudança para viver de forma mais sustentável -andar de bicicleta, cozinhar do zero- e ver essas mudanças como melhorias, não sacrifícios.

"A primeira coisa que as pessoas fazem não é tão importante para mim. É a mudança de mentalidade. É intrinsecamente gratificante? Porque então as pessoas farão mais", observa.

Estudantes dos primeiros workshops agora estão liderando seus próprios workshops, com sua ajuda.

Em um grupo recente, oito participantes se conectaram de lugares tão distantes quanto a Finlândia. O preço sugerido para oito sessões é de US$ 1.000 (R$ 5,6 mil), mas a maioria das pessoas paga menos do que isso. Algumas pagam menos de US$ 100 (R$ 567), segundo Spodek. Eles trouxeram uma variedade de experiências corporativas e ambientais.

Bill McKibben, ativista ambiental que passou décadas defendendo a ação coletiva, aplaudiu o uso de painéis solares por Spodek, apontando para um movimento na Alemanha em que mais de 500 mil pessoas adicionaram painéis solares às suas varandas na primeira metade de 2024.

"Mais poder para ele", disse McKibben sobre Spodek. "É uma ilustração muito boa do quão eficaz é a energia solar, mesmo em pequenas doses. E haverá uma quantidade infinita mais de experimentação desse tipo."

Mas ele acrescentou que escolhas de estilo de vida privado eram limitadas em seu impacto. "A coisa mais importante que um indivíduo pode fazer é ser um pouco menos individual e se juntar a outros em movimentos grandes o suficiente para provocar alguma mudança", aponta.

Spodek reconheceu que seu próprio exercício de viver fora da rede teve um efeito insignificante nas mudanças climáticas. Ele foi vago sobre como seu exemplo pessoal -mesmo seus modestos workshops e podcast, "This Sustainable Life" (A Vida Sustentável)- poderia se espalhar além do círculo de pessoas já tentando viver de forma mais sustentável.

Mas mesmo pequenos gestos individuais podem ter um efeito dominó, disse Sarah Lazarovic, vice-presidente de comunicações e estratégia criativa da organização sem fins lucrativos Rewiring America, que promove a conversão para eletricidade, incluindo solar.

"Quando alguém instala painéis solares em seu local, é catalisador porque as pessoas veem isso feito", observa ela. "Então elas farão isso, e outras pessoas verão isso. Então eu nunca subestimo o poder da ação individual."

Spodek apontou -talvez imodestamente- para outros movimentos sociais que começaram com alguns indivíduos.

"Não tenho intenção de fazer apenas um a um pelo resto da minha vida. O que estou fazendo é criar líderes para que eles possam criar ainda mais líderes. E isso significa criar organizações, instituições", finaliza.

Segundo Spodek, a mudança cultural tinha que começar em algum lugar. Por que não com ele?

Folha de S.Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2024/11/com-paineis-solares-portateis-e-uma-bateria-homem-vive-desconectado-da-rede-eletrica-de-nova-york.shtml