Brasil ainda é refém do desmatamento, diz Izabella Teixeira

Izabella Teixeira - Foto: Ana Paula Paiva/Valor -
Ex-ministra ainda afirmou que realizar a COP30, em Belém (PA), não representa uma vitória para o país
Por Paula Martini, Valor - Rio
A ex-ministra de Meio Ambiente Izabella Teixeira afirmou nesta terça-feira (22) que o Brasil perde tempo e ainda é refém do desmatamento, o que provoca consequências geopolíticas. A ambientalista, uma das principais negociadoras do Acordo de Paris, também disse que realizar a COP30, em Belém (PA), não representa uma vitória para o país.
Para ela, que é copresidente do Painel de Recursos Naturais da ONU, o fato de o Brasil sediar a próxima Conferência Climática das Nações Unidas, em novembro, exige protagonismo no estabelecimento das novas ambições climáticas.
"O fato de o Brasil sediar uma COP30 não faz disso, na minha opinião, uma situação vencedora", disse. "Nós temos um processo em curso de renovação do Acordo de Paris e o debate sobre as novas ambições é desafio estratégico da COP".
Teixeira participou do evento "Intercâmbio na Amazônia: ciência estratégica para tempos urgentes", realizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio.
A palestra encerrou dois dias de discussões entre cientistas, representantes do terceiro setor e do setor privado sobre mudanças climáticas e formulação de políticas públicas de desenvolvimento sustentável.
Segundo a ex-ministra, o sucesso da presidência da COP vai além do que está na agenda oficial. "Vai depender muito se nós seremos capazes de mobilizar legados com outros atores que não são responsáveis pela tomada de decisão pública porque isso significa que a sociedade se engajou, de fato, nas soluções climáticas."
Teixeira não citou nominalmente nenhum país ou negociação que estaria sendo prejudicada pelo desmatamento no Brasil, mas é sabido que um ponto de inflexão para a conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia é a desflorestação da Amazônia. Países da União Europeia tentam associar a agricultura e o agronegócio brasileiros ao desmatamento para barrar o acordo com o bloco sul-americano.
"O Brasil desperdiça soluções, perde tempo e ainda é refém do desmatamento. Isso tem implicações globais, internacionais e até geopolíticas de interesse sobre a riqueza do país ou sobre barreiras que são estabelecidas contra o país para que ele possa avançar", afirmou.
A ex-ministra destacou ainda a reorganização da ordem internacional, com o "derretimento" do sistema de cooperação internacional e a fragilização do sistema multilateral. E criticou o que chamou de "cinismo climático" das lideranças políticas.
"Nós temos que parar com certo cinismo climático que existe no mundo político, em que as pessoas não têm nenhum problema de oferecerem compromissos e não traduzirem isso em algo factível", declarou.
Nesse sentido, a cientista política Mônica Sodré, senior fellow do Cebri, ressaltou que, muitas vezes, a política não acompanha as evidências científicas que indicam o risco de não retorno do aquecimento do planeta há meio século.
Sodré ainda ressaltou os desafios de desenvolver soluções renováveis intensivas em recursos naturais num cenário de agravamento das tensões geopolíticas e aumento de gastos militares.
"Existe um risco não pequeno de que as soluções para o clima fiquem no meio de disputas geopolíticas. Precisamos descobrir e popularizar onde esses recursos estão e como a gente viabiliza essas soluções sabendo que vai haver uma disputa sobre eles", notou.
Para a pesquisadora americana Jessica Seddon, da Yale Jackson School of Global Affairs, a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris anunciada pelo presidente Donald Trump exige parcerias que não incluam apenas Estados-nação, mas também sociedade civil e setor privado. "De certa forma, esse sempre foi o caso, mas o atual ambiente multilateral torna isso muito mais claro e urgente."
Valor
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2025/07/22/brasil-ainda-e-refem-do-desmatamento-diz-izabella-teixeira.ghtml
A ex-ministra de Meio Ambiente Izabella Teixeira afirmou nesta terça-feira (22) que o Brasil perde tempo e ainda é refém do desmatamento, o que provoca consequências geopolíticas. A ambientalista, uma das principais negociadoras do Acordo de Paris, também disse que realizar a COP30, em Belém (PA), não representa uma vitória para o país.
Para ela, que é copresidente do Painel de Recursos Naturais da ONU, o fato de o Brasil sediar a próxima Conferência Climática das Nações Unidas, em novembro, exige protagonismo no estabelecimento das novas ambições climáticas.
"O fato de o Brasil sediar uma COP30 não faz disso, na minha opinião, uma situação vencedora", disse. "Nós temos um processo em curso de renovação do Acordo de Paris e o debate sobre as novas ambições é desafio estratégico da COP".
Teixeira participou do evento "Intercâmbio na Amazônia: ciência estratégica para tempos urgentes", realizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio.
A palestra encerrou dois dias de discussões entre cientistas, representantes do terceiro setor e do setor privado sobre mudanças climáticas e formulação de políticas públicas de desenvolvimento sustentável.
Segundo a ex-ministra, o sucesso da presidência da COP vai além do que está na agenda oficial. "Vai depender muito se nós seremos capazes de mobilizar legados com outros atores que não são responsáveis pela tomada de decisão pública porque isso significa que a sociedade se engajou, de fato, nas soluções climáticas."
Teixeira não citou nominalmente nenhum país ou negociação que estaria sendo prejudicada pelo desmatamento no Brasil, mas é sabido que um ponto de inflexão para a conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia é a desflorestação da Amazônia. Países da União Europeia tentam associar a agricultura e o agronegócio brasileiros ao desmatamento para barrar o acordo com o bloco sul-americano.
"O Brasil desperdiça soluções, perde tempo e ainda é refém do desmatamento. Isso tem implicações globais, internacionais e até geopolíticas de interesse sobre a riqueza do país ou sobre barreiras que são estabelecidas contra o país para que ele possa avançar", afirmou.
A ex-ministra destacou ainda a reorganização da ordem internacional, com o "derretimento" do sistema de cooperação internacional e a fragilização do sistema multilateral. E criticou o que chamou de "cinismo climático" das lideranças políticas.
"Nós temos que parar com certo cinismo climático que existe no mundo político, em que as pessoas não têm nenhum problema de oferecerem compromissos e não traduzirem isso em algo factível", declarou.
Nesse sentido, a cientista política Mônica Sodré, senior fellow do Cebri, ressaltou que, muitas vezes, a política não acompanha as evidências científicas que indicam o risco de não retorno do aquecimento do planeta há meio século.
Sodré ainda ressaltou os desafios de desenvolver soluções renováveis intensivas em recursos naturais num cenário de agravamento das tensões geopolíticas e aumento de gastos militares.
"Existe um risco não pequeno de que as soluções para o clima fiquem no meio de disputas geopolíticas. Precisamos descobrir e popularizar onde esses recursos estão e como a gente viabiliza essas soluções sabendo que vai haver uma disputa sobre eles", notou.
Para a pesquisadora americana Jessica Seddon, da Yale Jackson School of Global Affairs, a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris anunciada pelo presidente Donald Trump exige parcerias que não incluam apenas Estados-nação, mas também sociedade civil e setor privado. "De certa forma, esse sempre foi o caso, mas o atual ambiente multilateral torna isso muito mais claro e urgente."
Valor
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